Em Suspensão
2019
Galeria Virgilio, São Paulo, SP
Vinte artistas abrem 2019 na Virgilio com a Mostra Coletiva Em Suspensão. São obras que se aproximam e se inclinam para deixar ver a interrupção prolongada ou a pausa breve em que a arte dá sinais do tempo. Em sua maneira de dar e de ser. Tempo politicamente atemporal, bom perceber. Tempo sempre presente em imagens, inscrições, registros, artefatos e intenções sobre o adiamento, a interrupção, o intervalo, o estado de estar em suspensão, a paralisia e a perplexidade. Em suspensão é uma mostra rápida e reflexiva. Diversa e coesa. Os dias estão quentes, sob quase todos os aspectos, e o cenário histórico parece anunciar uma interrupção prolongada, a colocar esperanças em suspensão, vidas em perigos, diferenças sob vigia e ameaças. As opiniões supõem que não conseguimos ver a existência como permanência e a vida seguindo, persistente e indiferente às repetições da História. Vêm a nós turvadas de alegorias, metáforas, palavras-muros sobre palavras-fúrias. A vida precisa seguir, a existência permanecer, as palavras parecem suspensas, mas a arte entra, transborda e dá outros sentidos à realidade, às maneiras de viver. A arte repinta a natureza. Solta-se das margens. Entra, transborda e chama nossa atenção, invoca nosso olhar para enxergarmos o largado, o esquecido e o deixado de lado, o abandonado. Para vermos a lama tóxica que se encosta e marca metros a mais, suspendendo a vida. Para encontrarmos no paredão estável as figuras minúsculas que buscam chegar mais acima e ver diferente, e se tornarem grandes. Para encontrarmos a cidade escura imaginada por pontos reluzentes. E a vida pousada, arrumada e encenada, nas festas. Naquilo que parece paisagem e impressões em suspensão, a arte sugere vestígios da vida por trás do esquecido. Das armas. Das flores. Das pessoas, lugares e objetos parados no tempo. Desimaginados e suspensos, no sentido de afastados, surgem deixados de ser aquilo que haviam sido para serem revistos como outros, em um lugar do sensível. Lugar onde somente o desmanche do cotidiano e o resgate de novos sentidos para a realidade alcançam. Onde a arte sempre se estabelece e coloca a realidade suspensa, em suspensão, sob suspeita de iludir e de estranhar. De exaurir. A obra, em sua autonomia de expressão, deixa de fazer parte de um tempo definido para inspirar uma nova maneira de ver o tempo e de acomodar essa percepção em uma condição de existência, em uma expectativa de vida. Deixa de dizer alguma coisa circunstancial ou evidente do artista para se aproximar de quem a percebe e a toma como perspectiva de ver de outro canto e de outra maneira. Toma como referência deixar por perto, se aproximar, até onde possa a vista imaginar que alcance e, vista, dizer algo diferente. Resgata a escuridão que tenta deixar as coisas suspensas, encobrindo a luz. Mostra que nem mesmo a mais intensa escuridão, que a tudo vivido deixa em suspensão e se afirma para sempre, impede a luz de surgir.

André Resende