Pedra Terra Prata
2022
Massapê Projetos, São Paulo, SP
2022
Massapê Projetos, São Paulo, SP
com Laila Terra
A “Terra da Garoa” já não faz jus à alcunha – se solidifica cada vez mais como “selva de pedra” (des)montada em fragmentos de asfalto, tijolo, poluição e violência. “Aqui tudo parece que era ainda construção, mas já é ruína”, expressou, acertadamente, Caetano. Cada novo empreendimento imobiliário, com sua promessa de melhoria para poucos, deixa um rastro (especialmente nas regiões mais valorizadas pelas construtoras) de desigualdade e gentrificação, somando-se às outras mazelas crônicas da cidade. Em contraposição, esta metrópole problemática suscita poéticas - a arte, sempre atenta ao que se dá no espaço-tempo da vida vivida, se contamina, deglute e devolve formas, provocação e, também (desde que nos deixemos afetar), deleite. Da pedra, da terra e da prata pode-se fazer a guerra, o isolamento ou a desigualdade, mas também a ponte, o alimento e a joia.
Massapê é terra fértil para o desenvolvimento de culturas que, no campo, produzem alimentos e aqui, neste celeiro urbano de projetos artísticos, nutrem o intelecto. Nas imediações, fervilham bares, lojas e oficinas e circulam os mais variados tipos de pessoas. Neste espaço aberto para a rua, Renata Pedrosa instala seu radar, que tanto capta o fora, como amplifica o que se cria do lado de dentro, convidando a trocas desierarquizadas de saberes. Laila Terra constrói sua rampa ancorada pela taipa, tão característica dos modos construtivos tradicionais do território local e que foi substituída por sistemas massificados, massacrantes e excludentes. Em trabalho conjunto, reúnem lambes com imagens de pedras (que tendemos a imaginar como imutáveis e, portanto, conhecíveis) e grafismos que não podemos decifrar – um arranjo paradoxal, como São Paulo.
Renata investiga os fluxos do espaço público e os comportamentos dos grupos sociais por uma perspectiva sagaz, traduzindo suas inquietações em desenhos expandidos para diferentes linguagens. Do carvão à cerâmica, das instalações com materiais moles à videoarte, arquiteta composições conceitualmente complexas e formalmente elegantes. Há muito mais camadas de significado em seus trabalhos do que pode parecer à primeira visada.
Para Laila, o processo criativo é a própria obra. Embora parta de um sólido arcabouço teórico, é no fazer que ela exercita as possibilidades de materialização de ideias, levando em conta os fluxos de obtenção dos materiais e mesmo as relações com outros profissionais direta ou indiretamente envolvidos no resultado.
Ambas enxergam o ofício de artista como indissociável de suas realidades, não apenas como indivíduos, mas também dentro do contexto histórico, político e social no qual estão inseridas. A atenção às dinâmicas da vida é permanente e é com este pensamento sistêmico, aliado a suas preocupações com temas que lhes são caros, como a emergência climática, as desigualdades sociais, a ascensão de ideologias autoritárias e violências raciais e de gênero que elas se conduzem. Seus trabalhos são apenas um lembrete tangível de pesquisas e ações que são alavancadas por e destinadas ao que se dá do lado de fora do sistema da arte. É na rua que toda mudança começa.
Sylvia Werneck
A “Terra da Garoa” já não faz jus à alcunha – se solidifica cada vez mais como “selva de pedra” (des)montada em fragmentos de asfalto, tijolo, poluição e violência. “Aqui tudo parece que era ainda construção, mas já é ruína”, expressou, acertadamente, Caetano. Cada novo empreendimento imobiliário, com sua promessa de melhoria para poucos, deixa um rastro (especialmente nas regiões mais valorizadas pelas construtoras) de desigualdade e gentrificação, somando-se às outras mazelas crônicas da cidade. Em contraposição, esta metrópole problemática suscita poéticas - a arte, sempre atenta ao que se dá no espaço-tempo da vida vivida, se contamina, deglute e devolve formas, provocação e, também (desde que nos deixemos afetar), deleite. Da pedra, da terra e da prata pode-se fazer a guerra, o isolamento ou a desigualdade, mas também a ponte, o alimento e a joia.
Massapê é terra fértil para o desenvolvimento de culturas que, no campo, produzem alimentos e aqui, neste celeiro urbano de projetos artísticos, nutrem o intelecto. Nas imediações, fervilham bares, lojas e oficinas e circulam os mais variados tipos de pessoas. Neste espaço aberto para a rua, Renata Pedrosa instala seu radar, que tanto capta o fora, como amplifica o que se cria do lado de dentro, convidando a trocas desierarquizadas de saberes. Laila Terra constrói sua rampa ancorada pela taipa, tão característica dos modos construtivos tradicionais do território local e que foi substituída por sistemas massificados, massacrantes e excludentes. Em trabalho conjunto, reúnem lambes com imagens de pedras (que tendemos a imaginar como imutáveis e, portanto, conhecíveis) e grafismos que não podemos decifrar – um arranjo paradoxal, como São Paulo.
Renata investiga os fluxos do espaço público e os comportamentos dos grupos sociais por uma perspectiva sagaz, traduzindo suas inquietações em desenhos expandidos para diferentes linguagens. Do carvão à cerâmica, das instalações com materiais moles à videoarte, arquiteta composições conceitualmente complexas e formalmente elegantes. Há muito mais camadas de significado em seus trabalhos do que pode parecer à primeira visada.
Para Laila, o processo criativo é a própria obra. Embora parta de um sólido arcabouço teórico, é no fazer que ela exercita as possibilidades de materialização de ideias, levando em conta os fluxos de obtenção dos materiais e mesmo as relações com outros profissionais direta ou indiretamente envolvidos no resultado.
Ambas enxergam o ofício de artista como indissociável de suas realidades, não apenas como indivíduos, mas também dentro do contexto histórico, político e social no qual estão inseridas. A atenção às dinâmicas da vida é permanente e é com este pensamento sistêmico, aliado a suas preocupações com temas que lhes são caros, como a emergência climática, as desigualdades sociais, a ascensão de ideologias autoritárias e violências raciais e de gênero que elas se conduzem. Seus trabalhos são apenas um lembrete tangível de pesquisas e ações que são alavancadas por e destinadas ao que se dá do lado de fora do sistema da arte. É na rua que toda mudança começa.
Sylvia Werneck
![](https://freight.cargo.site/t/original/i/a3e9070785dd48c944582e86f52db8009d62c1fad20c824c358da68675591213/220819_massape_laila_015.jpg)
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