Terras e Buracos
2011
Galeria Virgilio, São Paulo, SP
Terras, 2010/11
Busquei fotografar nos limites das rodovias que entram e saem de São Paulo aquelas áreas que estão sendo preparadas para receber uma construção, onde a terra aparece nua. Entrei nestes lugares para registrar esta terra nua, uma invasão de áreas privadas para delas me apropriar via imagem, da mesma maneira que os sem-terras invadem e se apropriam de propriedades rurais.Usando uma câmera analógica com filme em preto e branco, invadi e registrei aproximadamente 25 lugares diferentes, sendo que fiz de 4 a 5 fotos de cada um, variando um pouco, entre eles, à distância, a altura ou a luz. Obtive 114 imagens diferentes das quais escolhi 100. Usei então 100 imagens de 25 terrenos diferentes, todas muito parecidas. Uma repetição de estados muito semelhantes para criar uma situação de equivalência. A terra nua, uma propriedade privada, na forma de imagens repetidas. Uma tentativa de distanciar o aspecto material da terra que nos alimenta, esvaziando-a de singularidade e de substância. Decidi imprimir estas imagens em papel jornal para enfatizar uma característica ordinária, para retirar qualquer aura de obra de arte da fotografia e também para que as impressões fossem manipuladas livremente, uma abstração das imagens na repetição banalizada de terrenos muito semelhantes, sem distinções, uma transgenia da imagem. Este trabalho foi apresentado usando 100 impressões de cada uma das 100 imagens. As 100 impressões de cada imagem foram dispostas no chão de uma sala; são 100 pilhas com 100 impressões cada; 10.000 imagens da terra nua impressa em papel jornal; disponíveis para serem manipuladas, apropriadas, dobradas, guardadas, descartadas.
Buracos (Jd Edith), 2011
Buracos parte de imagens da destruição de uma favela na cidade de São Paulo, o Jardim Edith e de um trecho da peça O declínio do egoísta Johann Fatzer, de Bertolt Brecht. São 12 capturas de tela de um filme amador encontrado na Internet, intercaladas com as falas de dois combatentes, os personagens Koch e Büsching, fazendo considerações sobre a Primeira Guerra Mundial.O filme de onde foram capturados certos trechos, intitulado Favela do Jardim Edith, mostra uma moradia parcialmente destruída: entulhos recobrem os degraus que dão acesso ao andar superior, paredes derrubadas dão a ver o entorno, também em processo de destruição. Coloco dois momentos, distantes no tempo - imagens de destruição de uma favela de São Paulo em 2009 intercaladas com as falas de uma peça ambientada durante a Primeira Guerra Mundial - em um mesmo ponto de encontro. Uso para isso um projetor multimídia e dois alto-falantes, onde a voz de cada ator é emitida em uma caixa de som diferente.
(Press release)